segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Bom Padeiro


Estava passando por uma rua em Sobradinho, um bairro de Brasília no DF, e reparei que em um espaço de 700 metros havia 12 padarias. Fiquei perplexo e curioso. Será que naquele local vender pão é algo muito lucrativo? Evidente que sim, pois todos precisamos de pão, o alimento essencial da civilização. Abrir tantas padarias em um mesmo lugar me parece um tanto ganancioso, onde os donos dos estabelecimentos só visam o lucro e "roubar" o freguês do seu "concorrente", travando quase uma guerra para ver quem consegue mais fregueses, sem falar que existem outros lugares na cidade que precisam muito de uma padaria e eles não se importam.


Como sou curioso procurei saber mais sobre cada uma das 12 padarias, para minha surpresa o padeiro é o mesmo em todas elas, mas os empresários ignoram isso. O pão desse padeiro é realmente muito bom, não me admira estar atendendo a todas. Não sei como ele consegue.


Semana passada esperei o expediente acabar e abordei o padeiro, identifiquei-me e pedi que ele satisfizesse minha curiosidade, não queria ser mal educado mas precisava muito saber quanto ele ganhava para trabalhar em todas as padarias. A resposta foi incrível, ele preparava o pão gratuitamente, todos os dias, horas e horas de trabalho e não cobrava um centavo. Claro que perguntei o motivo. Ele fez um acordo para que o pão entregue por ele fosse distribuído também de graça, para alimentar os famintos da cidade. Infelizmente o pão era vendido e desta forma nem todos podiam ter acesso. Ele também falou que do outro lado da cidade, em uma parte mais pobre, havia pessoas sem alimento e nenhuma padaria, ele gostaria muito que ao menos uma delas fosse para lá.


Realmente é um enorme desperdício, 12 padarias juntas na mesma rua e concorrendo entre si, o engraçado é ver os atendentes, orientados pelos proprietários, dizer que o pão deles é melhor do que o da concorrência, quando o alimento vem da mesma fonte.


O simpático padeiro disse que a união das padarias seria uma solução, elas ficariam melhor localizadas na cidade, seriam mais eficientes no atendimento e poderiam distribuir o pão gratuitamente, como foi combinado originalmente. Perguntei se ele achava isso possível... Sim, ele achava possível, mas sabia que a vaidade, a ganância e a avareza dos proprietários estavam acima do bom censo, e por isso seu sonho não seria realizado desta forma. Ele mostrou-me um saco grande que levava em suas mãos, era com ele que cumpria sua tarefa tão sonhada, distribuindo pão para quem pedisse.


Antes de partir ele me deu o pão, estava bastante amassado, era um pão feio mas com perfume e sabor indescritíveis, parecia transportar-me para um campo com árvores, flores, grama verde bem aparada, uma brisa suave e a música de alguns pássaros, um lugar de paz muita paz. O mais incrível é que já se passaram 7 dias e eu ainda não tive fome.


As padarias são as igrejas evangélicas,

os proprietários são as lideranças das igrejas,

os atendentes são os obreiros,

o padeiro é Deus e o pão é Jesus.


Existe mesmo em Sobradinho ruas com muitas igrejas, o que me faz pensar no motivo que levaria um homem, que se diz de Deus, a abrir outra igreja onde já existe uma, ao invés de trabalharem juntos... Isso se chama "Concorrência comercial" onde vender o Pão é apenas um comércio.


BSB, 8 de maio de 2011.

Cícero Lopes

Jornalista ilustrador

Material digitado e ilustrado em um iPad

2 comentários:

Cristiano Gomes disse...
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Marcília Campos Oliveira disse...

Querido Cicero, sua crônica realmente retrata o cotidiano das igrejas. Gostei muito do modo como vc parafraseou a ideia do "pão"... Esse alimento é dado de graça para todos que desejam... basta buscar no lugar certo, não é mesmo?! Estou curiosa para ler novas crônicas suas, heim?! Admiro seu trabalho e principalmente sua criatividade e sensibilidade artística. Um super beijo. Marcília